Busque o avanço de todos com atividades específicas para cada etapa do processo de alfabetização
As variações nas atividades de alfabetização garantem o atendimento às necessidades de aprendizagem de todos.
Para garantir o aprendizado de todos os alunos é preciso refletir, aceitar e levar em consideração a heterogeneidade de nossas turmas. Em tese, todos concordamos com o discurso de que ninguém é igual a ninguém, e que somos frutos de diferentes realidades. Mas como isso se aplica na prática? Como elaborar atividades que levem em conta os diferentes momentos de aprendizagem de cada aluno, principalmente no processo de alfabetização?
Muitos, desde cedo, estão em um ambiente alfabetizador, propício para a aprendizagem, onde a cultura da leitura e escrita é valorizada, como o meu sobrinho que ama tanto o alfabeto que pretende fazer seu aniversário com esse tema. Porém, há outros que fazem suas primeiras descobertas somente quando entram na escola. Mas todos podem aprender! Cada aluno tem um jeito e tempo de aprender diferente do outro.
Na alfabetização, além de todos os aspectos da heterogeneidade, para atender às necessidades de aprendizagem é preciso levar em conta também as diferentes hipóteses de escrita e o nível de aprendizagem em que se encontram os alunos. Para isso, precisamos elaborar e produzir uma prática educativa baseada em diferentes estratégias, que envolvam a todos.
Uma das formas de se ampliar e aprimorar nossa prática educativa nesse sentido é criar variações e adaptações dentro de uma mesma atividade ou aula na alfabetização. Tarefa complexa, mas possível de ser realizada! Quando não há variações, corre-se o risco de propor atividades muito fáceis ou muito difíceis aos alunos, causando desinteresse e perda de tempo.
A seguir, compartilho duas atividades permanentes de alfabetização que realizo com minhas turmas. São simples, mas com variações e adaptações de acordo com as diferenças nas fases de aprendizagem. Os textos podem ser apresentados em outros formatos, como em vídeos e áudios. Como cada aluno tem seu tempo, uns mais vagorosos outros mais rápidos, talvez seja necessário programar as atividades para durarem mais de uma aula, ou até para fazerem parte de uma sequência didática.
Leitura de texto de memória
Texto (cantiga): Sapo Cururu (disponível nesta coletânea)
Alunos em hipótese de escrita pré-silábicos e silábicos (sem e com valor):
Esses alunos lêem antes mesmo de ler convencionalmente. Nessas fases, quando usam suas estratégias de leitura, antecipam o que pode estar escrito, comparando palavras, e estabelecem relações entre o oral e o escrito. Dessa forma vão refletindo sobre o funcionamento do sistema alfabético e consequentemente avançam em sua aprendizagem.
Para a leitura dos alunos dessas fases, o texto pode ser apresentado primeiramente em um cartaz para a leitura coletiva e em seguida impresso para a leitura individual ou em duplas de colegas dentro dessas hipóteses. Na leitura coletiva, a professora lê com os alunos, de forma contínua, mostrando cada linha do texto no cartaz. No segundo momento, a leitura é feita da mesma forma, mas cada aluno ou dupla em sua folha de texto. Depois, os alunos circulam no texto as palavras que a professora ditar. Para finalizar, o texto pode ser recortado em versos para ser lido e colocado na ordem correta, também em duplas.
Alunos em hipótese silábico-alfabética e alfabética:
Para os alunos dessas hipóteses, não há lógica e nem necessidade de realizar as atividade de leitura da mesma forma dos alunos das hipóteses anteriores, afinal não há desafio, pois, já lêem com autonomia.
A leitura deve ser somente individual. Pode ser acompanhada de outro texto para complementação de leitura, por exemplo, um texto informativo científico sobre os sapos cururu. Outra variação é ler os dois textos com o auxílio de um dicionário, para descobrirem o significado das palavras, compreenderem o que lêem e ampliarem o vocabulário.
Escrita de texto de memória
Texto (cantiga): Borboletinha tá na cozinha
Alunos em hipótese de escrita pré-silábicos e silábicos (sem e com valor):
Para alunos dessas hipóteses, as atividades de escrita são em duplas ou individuais. Pode ser apresentado aos alunos o texto com lacunas no final das frases para que escrevam o que falta. Os alunos escreverão segundo suas hipóteses, que devem ser confrontadas entre si na lousa, para que, com as devidas orientações e intervenções do professor, cheguem à escrita alfabética.
Uma variação dessa atividade é oferecer aos alunos as letras móveis certas para que formem as palavras e então preencham as lacunas. Mas é possível também propor que escrevam uma linha inteira do texto, ou o texto todo em duplas, ou ampliar seu repertório pensando em uma lista de nomes de animais de jardim, por exemplo.
Para esses alunos, não tem sentido pedir que preencham, por exemplo, as vogais que faltam no texto, afinal, quem está na hipótese silábica ainda escreve uma letra para cada sílaba (que pode ser uma vogal ou consoante, qualquer uma das duas), então, hipoteticamente para ele não falta nada na palavra com lacunas.
Alunos em hipótese silábico-alfabética e alfabética:
Para esses alunos, as atividades acima não oferecem nenhum desafio. O ideal é propor a escrita alfabética e individual do texto de memória. Pode-se ampliar a atividade para a escrita de uma ficha técnica a partir do texto informativo da atividade de leitura. Outra proposta é que eles escrevam sozinhos o que sabem sobre a borboleta do texto, ou sobre borboletas em geral. É necessário pensar em outras atividades além da principal, para atender aos alunos que estão mais avançados em suas hipóteses e desafiá-los.
Espero que tenham gostado das atividades propostas e tenham se inspirado para criar as suas. Mas principalmente compreendam a importância de se fazer as devidas variações em uma atividade para atender às necessidades de aprendizagem na alfabetização de todos os alunos. Se você, querido alfabetizador, já vem fazendo isso, conte-nos aqui nos comentários!
Um grande abraço e até a próxima segunda-feira!
Mara Mansani
CRÉDITOS: Nova Escola